Abortofilia: Apelo à Ignorância e Feminismo
A seita da lâmina na artéria, por iniciativa de Ana Matos Pires chamou a atenção para um estudo sobre aborto e problemas mentais nas mulheres.
O Bernardo Motta comentou e referiu o aparente cuidado dos autores do estudo para não assumirem a conclusão como moddus tollens, ao escreverem apenas que ele "não sustenta a hipótese de que há um incremento no risco de problemas mentais após um aborto de primeiro trimestre". Por isto, penso que esse estudo nem sequer pode ser considerado científico pois não consta nele nenhuma premissa falseável. Os autores podiam ter escolhido esta:
-Se "problemas mentais", então "contacto com psiquiatra".
O que estaria de acordo com a metodologia seguida, conforme resumida pelo Bernardo:
-Verificar se existia correlação entre um abortamento de primeiro trimestre em mulheres sem registo prévio de problemas mentais, e um subsequente contacto entre essas mulheres e um psiquiatra.
E então a conclusão, à luz dos dados encontrados, teria de ser:
-Não "contacto com psiquiatra", não "problemas mentais".
Ou seja, o aborto nos primeiros três meses, segundo o critério adoptado, ficaria fundamentado como não sendo responsável por problemas mentais nas mulheres. Neste caso, o estudo teria sido científico. E também teria ficado demasiado evidente e fácil de apontar o seu descomunal erro. A premissa falseável implícita não é uma necessidade lógica nem uma afirmação plausível.
Uma coisa é investigar se o aborto causa problemas mentais às mulheres, outra é investigar se as mulheres vão a psiquiatras depois de abortar. É aceitável concluir que as mulheres que procuram psiquiatras têm algum problema de saúde mental, mas não é lógico concluir que SÓ as mulheres que procuram psiquiatras têm problemas de saúde mental, que todas as mulheres com problemas de saúde mental procuram psiquiatras ou que a definição de problema mental seja "contactar um psiquiatra".
Imaginem a mesma técnica fraudulenta aplicada ao problema da obesidade. Estabelecia-se o seguinte:
-Se comer mais do que necessário causa obesidade, as pessoas que comem demais tenderão a procurar nutricionistas.
Encontrava-se então um grupo considerável de pessoas com hábitos alimentares excessivos que nunca tivessem ido a uma consulta da especialidade; e podia concluir-se não haver dados para relacionar alimentação em excesso com aumento de peso?
Se for usado o truque de fechar os olhos às evidências, a coisa é capaz de resultar. Perante comilões, o cientista não os deve fazer subir a uma balança. No caso do aborto, o cientista também não deve aplicar testes/questionários/consultas psiquiátricas a grupos de mulheres que abortaram no primeiro trimeste de gravidez, para verificar se elas tiveram /têm problemas mentais.Em ambos os casos, os métodos já estão condenados a não conseguir demonstrar qualquer correlação.
Se o estudo fosse realmente científico e sério, não só teria uma premissa falseável mas também mais plausível e objectiva ( se aborto provoca problemas mentais, mulheres que abortaram terão em média mais problemas mentais), não faltando o respectivo e necessário grupo de controlo (mulheres que não abortaram). A conclusão do estudo nada diz,
The findind that the incidence rate of psychiatric contact was similar before and after a first-trimester abortion does not support the hypothesys that there is an increased risk of mental disorders after a first-trimester induced abortion
, pois o método escolhido também não suporta a hipótese contrária, a de que não há aumento de risco de disfunções mentais após um aborto no primeiro trimestre. Simplesmente informa como semelhante o contacto que as mulheres têm com psiquiatras, antes e após o aborto. No caso do aborto provocar sérios problemas mentais às mulheres, teríamos até motivos para considerar este dado muito preocupante. Tal como seria preocupante a informação de que pessoas com problemas cardíacos não procuravam especialistas da área.
Mas o defensor da legalização de abortos, como Ana Matos Pires, tranquiliza sempre a sua consciência com esta sub-espécie de argumentum ad ignorantiam.
É assim quando mentem dizendo que ninguém sabe se o feto é um ser humano. O abortista confessa ignorar se o feto é ou não humano, logo admite a possibilidade de ser, ao mesmo tempo que defende convicta e ferozmente o direito de o poder matar.
É assim quando o abortista se tenta convencer que não está provado que o feto possa sentir dor ao ser envenenado, desmembrado, perfurado, esquartejado e/ou aspirado do útero por bomba de vácuo. O defensor da legalização destes métodos tranquiliza-se, não com a certeza de que eles significam a destruição indolor de uma qualquer outra coisa que não um ser humano, mas com a abjecta ideia de que ainda está por provar que o bebé em gestação possa sentir dor quando submetido a tais torturas.
Se estivesse por provar algo tão óbvio, inevitavelmente estaria também por provar que o feto era imune à dor. Nada que preocupe o abortista, que assim admite a possibilidade do aborto ser a horrível e dolorosa morte de um semelhante seu, ao mesmo tempo que festeja a legalização do acto com vivas e aplausos.
A falácia do apelo à ignorância ocorre em duas situaçãos:
-Declarar que algo é falso, alegando não se ter provado que seja verdadeiro.
-Declarar que algo é verdadeiro, alegando não se ter provado que seja falso.
A retórica abortista usa sempre esta falácia, de maneira disfarçada, no plano da legitimação moral e legal. Declara-se o aborto permitido, alegando, por fingimento, não se ter demonstrado algo que o tornasse eticamente inadmissível. Ora, mesmo que assim fosse, qualquer acto só pode ser permitido caso se prove não existir coisa alguma que o torne eticamente inadmissível.
Nesta questão do estudo sobre a correlação entre aborto e problemas mentais da mulher, temos a mesma estratégia: assobia-se para o lado e adormece-se a consciência dizendo que não está provado que abortar aumente os riscos de problemas mentais para as mulheres.
Embora seja chocante a consideração que esta gente tem pelas mulheres, o ponto mais importante é o estudo ser totalmente irrelevante e alheio à discussão da legitimidade do aborto. Mesmo que, por hipótese, se provasse a impossibilidade absoluta do aborto poder causar qualquer problema de saúde mental ou física à mulher; o aborto continuaria a provocar aquilo que provoca: o criminoso massacre do inocente e indefeso, às mãos do mais forte.
Ana Matos Pires até podia estar 100% certa quando refere a possibilidade de benefícios mentais para a mulher que aborta ( "alívio, eutimia e normalização da reactividade emocional"). Digo mais, a felicidade até podia ser condição sine qua non e directa de TODAS as mulheres que realizassem abortos. O acto continuaria a ser aquilo que é: a morte injusta de um bebé humano.
Ao contrário do Bernardo Motta, não digo que seja mentira esta teoria da possibilidade de benefícios mentais para as mulheres que abortam. Basta recordar certas mulheres a festejarem a legalização do aborto numa determinada noite de 2007 para ficar evidente que esta prática pode provocar não só alívio, mas também alegria, regozijo e felicidade.
A concretização do desejo de matar alguém considerado incómodo, pode muito bem corresponder à eliminação de ansiedade. Por exemplo, não me admiro se certos assassinos, hoje presos e impedidos de exercer a "profissão", estejam nessa condição mais deprimidos e psiquicamente debilitados do que nos dias em que tiveram liberdade para saborear o gosto de destruir as suas vítimas.
Não digo que não existam muitas mulheres que abortem por ignorância; confusas, pressionadas, intimidadas e desesperadas. Mas não tenho elementos que me permitam generalizar essas características para todas, nem para a maioria das mulheres que decidem matar os filhos que geraram no ventre.
O facto é a que a natureza humana tende livremente para a maldade: legalizando-se o aborto, mais abortos acontecem. Se alguém duvida, pergunte aos responsáveis de qualquer clínica de abortos se eles se estabelecem nos países que legalizam a matança, com a perspectiva de obterem prejuízos.
É certo que uma das razões para ser contra o aborto pode passar também pela defesa da dignidade e saúde das mulheres. Mas não podemos tornar as mulheres adultas a referência da discussão, porque não são elas as envenenadas, esquartejadas e esmagadas nas clínicas e hospitais da morte.
Quem defende a legalização de abortos, tem a responsabilidade moral de justificar o acto. E o acto de que estamos a falar é cometido premeditamente contra um bebé, com o objectivo de o matar. É sobre isto que o abortista tem de se justificar e prestar contas, em vez de alegar que não está provado que o acto cause dano psiquíco indirecto à mãe.
Nenhuma mulher aborta por qualquer razão?
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