Pior que desperdiçar dinheiro é destruir esperanças
Christine Szymanski, professora de arte norte-americana que ficou tetraplégica aos 25 anos por causa de um mergulho em uma piscina, morreu no dia 1o. de dezembro de 2011. Aos 31 anos, após 6 anos de muito trabalho, excelente adaptação e engajamento social, a professora resolveu pelo suicídio, pois a seus olhos sua dor era grande demais. Sem dúvida, a situação dos que estão na impossibilidade de se movimentar é muito sofrida, não apenas física, mas principalmente espiritualmente. Afinal, Deus nos fez livres e a liberdade corporal é um tipo de expressão dessa liberdade, ainda que não de modo essencial. Só uma visão espiritual é capaz de ver na impossibilidade da liberdade física um antegozo da liberdade espiritual, a que todos estaremos submetidos após descermos ao túmulo. Se a morte iguala cetros e cajados, os que sofrem dessas graves doenças experimentam antes de todos o que a todos espera: o sentido de que esse mundo é pouco…
Mas a decisão da professora Christine ocorreu porque foi enganada com falsas promessas, como também centenas de brasileiros faz pouco tempo, em razão das pesquisas com células-tronco embrionárias. A jovem foi encantada pela Geron Corp., milionária empresa americana, que vendia o sonho da cura para todo tipo de paralisia em troca de centenas de milhões de dólares dos contribuintes norte-americanos. Em 2009, a professora agradeceu ao presidente Obama por remover o veto que Bush tinha dado às pesquisas com células-tronco e aberto espaço para mais dinheiro público, que deram resultado zero! Em novembro de 2011 a Geron Corp. abriu falência, não devolveu o dinheiro americano jogado fora e nem se desculpou com as centenas de vítimas de paralisia que ludibriou nesses anos. Mas pior que desperdiçar dinheiro é destruir esperanças. Em maio daquele ano Christine começou a pensar em suicídio e em setembro resolveu-se por ele, pois não tinha esperança de ter uma vida plena. Ela não conseguiu ver para além de sua grave doença, muito porque disseram-lhe que o ser humano pleno é saudável, bonito, inteligente. Infelizmente, parece que nenhum amigo lhe pôs diante dos olhos uma representação do Senhor Jesus Cristo Crucificado, Aquele de quem se diz que nem parecia ter forma humana. Talvez ela entendesse que “vida feliz e plena” nada tem a ver com corridas, sorrisos, nados ou viagens.
Reprodução: Penn Wooding, um exemplo de superação da tetraplegia
Todos os dias, centenas de pessoas passam pela experiência de não conseguirem se mover: pessoas com tetraplegia ou outros modos de paralisia. Outras experimentam dores inimagináveis por causa do movimento de músculos pequeníssimos e insignificantes. Outras até ainda gostariam de ter muitos músculos paralisados a que eles existissem, tamanho é o incômodo e o sofrimento que produzem. A todos, porém, importa dar sentido transcendente a esses momentos. Só é capaz de sofrer bem quem consegue ver além das dores. Encontrar o sentido das dores humanas fazem-nas deixar de ser muro sobre o qual lançamos nosso ódio, nossa ira e insatisfação, transformando-as em ponte, por onde transitam o amor do homem a Deus e de Deus ao homem sofrido. Um amor cheio de significado, capaz de fazer brotar de homens rudez e aparentemente insensíveis impensáveis ações de generosidade e sacrifício pelo próximo.
A tristeza da Christine, que se transformou em angústia e depois depressão, tem muitas causas. Mas acho que uma importante causa foi a promessa de cura que lhe garantiram. De algum modo, essa promessa reacendeu o desejo de felicidade aqui, nesse mundo. Quando a Geron Corp. confessou incapacidade de cumprir sua promessa fechando as portas, a professora viu seus esforços e esperanças esvairem-se. Por isso, parafraseando o Capitão Nascimento, de “Tropa de Elite”, acho que essa vai para a conta da Geron Corp.
Por Robson Oliveira
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