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sexta-feira, 1 de abril de 2011

BISPOS E MÉDICOS CATÓLICOS PREOCUPADOS COM O NÚMERO DE ABORTOS EM PORTUGAL

Os bispos e os médicos católicos revelam-se alarmados com alguns dos números que foram hoje dados a conhecer sobre a prática de abortos no ano de 2010. 

D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), recorda que uma das bandeiras dos movimentos pelo “sim” no referendo ao aborto era a protecção das mulheres, e pergunta até que ponto isso se traduziu na realidade. 

“Gostaria de saber se isso defende ou não a dignidade da mulher ou se, ao contrário, não continua ela a pagar todas as consequências e a ficar na sua consciência com todos esses problemas, que não desaparecerão. Os problemas continuam a repetir-se. Quando a lei surgiu, quando foi o referendo, colocavam-se outras razões, falava-se tanto na protecção da mulher, mas não sei até que ponto ela está a ser protegida”, diz D. Jorge Ortiga. 

Os números hoje conhecidos indicam que mais de dois terços dos abortos ocorreram em mulheres com idades entre os 20 e os 34 anos, uma tendência que se tem repetido ao longo dos anos. 

Os dados conhecidos hoje informam ainda que entre os adolescentes foram feitos quase 2.300 abortos, uma centena deles em jovens com menos de 15 anos. São números preocupantes, que não deixam o arcebispo de Braga indiferente. 

“Os adolescentes hoje são colocados diante de certas situações, convidados e estimulados a certas experiências, depois temos aí o resultado. Acho que é hora de alertar as consciências e as pessoas deviam reconhecer que há caminhos que estão a ser percorridos, não só nessa área da questão do aborto, mas também na área das escolas, da educação sexual, que vão marcar a vida dessas adolescentes para todo o sempre”, lamenta D. Jorge Ortiga. 

Falta de acompanhamento agrava situação 
Também os médicos católicos, sobretudo os que mais se empenham nesta questão, se mostram preocupados com os dados. 

João Paulo Malta, que foi porta-voz do movimento que fez campanha pelo “não” no referendo sobre o aborto, refere que um dos principais problemas é a falta de acompanhamento das mulheres que abortaram, o que impede o desenvolvimento de medidas de prevenção: “Nós não conhecemos a população que faz abortos em Portugal, porque não é acompanhada. Não sabemos, não estudamos ao longo dos anos, o que acontece a essas mulheres, por isso não conseguimos implementar um programa de prevenção em saúde pública, voltado para este grupo específico de risco.” 

A opinião é partilhada pela psiquiatra Margarida Neto, especialmente no que diz respeito aos 25% de mulheres que, segundo o estudo agora divulgado, abortaram mais do que uma vez, e as 250 que o fizeram três vezes ou mais. 

“Estas mulheres que fizeram o aborto mais de três vezes, que é um número impressionante em tão pouco espaço de tempo, o Estado sabe quem são. Não é numa atitude de censura, mas de acompanhamento, é preciso saber o que se passa com estas mulheres para quem a alternativa para a sua vida e para a sua gravidez é repetir três vezes o aborto. E sabemos que quem faz aborto de repetição, quem está nesta trajectória, o irá fazer mais vezes, portanto pelo menos estas mulheres deveriam ser acompanhadas de outra maneira”, alerta Margarida Neto. 

O obstetra e ginecologista João Paulo Malta, confirma que pela sua experiência, não se está perante falhas pontuais de métodos contraceptivos: “Quando nós temos mulheres que abortam 3, 4 e mais vezes no mesmo ano, é prova evidente que essas medidas nem sequer existem. Não se trata do falhanço das medidas, elas não são aplicadas, e as principais vítimas são não só as crianças que são abortadas, mas as próprias mulheres que são submetidas a uma, duas, três, quatro cortagens ou abortos químicos.” 

Margarida Neto concorda com esta avaliação e diz que é possível que uma educação sexual bem feita poderá ajudar: “Não acho que estes casos tenham a ver com falta de informação. Têm a ver com negligência, irresponsabilidade, uma noite de risco, comportamentos pouco pensados e deixados ao imediato, e sim, a educação sexual pode ajudar a pensar a vida, e a vida de relação de outra maneira.” 

Contudo, aponta críticas às falhas que existem no actual sistema, e lamenta que tudo indica que estes números se repitam ou piorem nos próximos anos. 

“Desde logo falha a obrigação de ir a uma consulta de planeamento familiar, e falha o aconselhamento. Este aconselhamento que devia pressupor um atendimento da mulher, das suas dificuldades e condições de vida, não está a acontecer, e por isso eu temo que estes números, aos quais a sociedade inteira deverá estar muito atenta, se irão repetir, ou ainda intensificar”, conclui Margarida Neto.

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